segunda-feira, 10 de novembro de 2014

EXEMPLO A SER SEGUIDO

Jorge Kiryu acredita que a certificação é valorizada pelos consumidores

O Alto Paranaíba mineiro é reconhecido pela produção de hortaliças. Para aumentar o valor agregado dos produtos colhidos por lá, 350 agricultores se uniram para criar uma marca própria: Região de São Gotardo, município que se destaca principalmente pelo cultivo de cenouras. Além dele, também estão incluídos Campos Altos, Ibiá e Rio Paraíba. A iniciativa tem a participação do Sebrae, de sindicatos e cooperativas locais. Os produtos que receberão a certificação que garante a origem e a qualidade – a exemplo do que ocorre com os bebidas francesas – são, a princípio, a cenoura, o alho, a batata e o abacate. Um conselho regulador monitora os resultados. Como o trabalho é feito com esmero, nem mesmo perdas com a estiagem foram sentidas pelos agricultores da região. Conseguiram passar quase ilesos pela seca por causa do uso de tecnologia de ponta. 

No ano em que a seca castigou as lavouras no Brasil e no estado, os agricultores da Região do Alto Paranaíba, principalmente os dos municípios de São Gotardo, Campos Altos, Ibiá e Rio Paranaíba, conhecidos por produzir cenoura, alho, batata e abacate de qualidade, comemoram o fato de não ter perdido parte da colheita. Segundo eles, os resultados foram mantidos por causa do uso de técnicas de produção avançadas, como processos de irrigação e controle sistemático de pragas. Neste ano, a região, que é a maior produtora de hortaliças do estado e a que mais cultiva cenoura, alho e beterraba no país, deve manter a colheita parecida com a 2012/2013. Na safra anterior, os agricultores do Alto Paranaíba tiraram da terra cerca de 344 mil toneladas de cenoura (30% da safra do país), 29 mil toneladas de alho (20% do total nacional), além de 66 mil toneladas de batatas. Ainda colheram 17 mil toneladas de abacate. 

RIQUEZA- A região de São Gotardo, no Alto Paranaíba, é conhecida pela alta produtividade por hectare. Um dos fatores que têm permitido esse avanço é o uso de tecnologia de ponta, além de se destacar pela altitude e solos bons, profundos, com teor de argila médio, e que permitem o desenvolvimento das raízes. As culturas de alho, cenoura e batata são irrigadas na maioria das propriedades. No alho, é possível obter alta produtividade pela vernalização, que é quando o bulbo fica numa câmara fria, antes do plantio: isso potencializa a produção. E a cenoura se destaca pela tecnologia importada da Holanda, tanto no plantio quando no beneficiamento e limpeza do produto. 

A Sekita Agropecuária, formada por 43 produtores, com 850 funcionários fixos e cerca de 500 temporários, é responsável por quase 20% da produção da região e já se tornou referência para outros produtores. A cada ano, a produção na agropecuária aumenta cerca de 5% a 50%, dependendo da cultura. A cenoura, carro-chefe da região, teve aumento de 5%, a beterraba passou a produção dos 50 hectares em 2013 para 140 hectares em 2014. O alho, segundo o produtor e diretor agrônomo da Sekita, Eduardo Sekita, é a única cultura que continua estável pela dificuldade de se encontrar mão de obra: seus mecanismos de plantio, colheita e beneficiamento são todos feitos manualmente. 

O lançamento da marca própria Região de São Gotardo deve conferir ainda mais destaque aos agricultores dos municípios envolvidos na iniciativa. O analista técnico do Sebrae e gestor do projeto Cláudio Wagner de Castro afirma que os produtos certificados com o selo de origem e qualidade que acabou de ser lançado serão produzidos em uma área demarcada, por agricultores que respeitam as boas práticas agrícolas e seguem um rigoroso processo de cultivo, garantindo assim um padrão de qualidade superior. 

A marca Região de São Gotardo será gerida pelo Conselho Regulador, criado especialmente com esse objetivo. Na prática, ele que vai ser responsável por também atestar a origem e o padrão de qualidade dos alimentos produzidos na área demarcada. 

INFORMAÇÕES- Outra vantagem para os consumidores está na possibilidade de acessar de qualquer lugar os dados referentes aos produtos certificados. Assim, poderão saber mais sobre os agricultores responsáveis pelos alimentos que estão levando para casa. A consulta poderá ser feita por meio do sistema de procedência criado para a marca própria. 

Além do Sebrae, várias entidades ligadas aos produtores rurais estão envolvidas no projeto. Entre elas estão os sindicatos rurais da região e as cooperativas Agropecuária do Alto Paranaíba (Coopadap) e a de Agronegócios do Cerrado Brasileiro Ltda (Coopacer). Jorge Kiryu, presidente do Conselho Regulador, afirma que o desafio, a partir de agora, será trabalhar em conjunto com todos os 350 produtores que fazem parte da iniciativa, para que ela dê frutos o quanto antes. “A tendência natural é que cada agricultor vá para um lado, mas com o projeto vamos ter que trabalhar em conjunto, um ajudando o outro, para que todos tenham bons resultados”, destaca. 

Tradição japonesa A olericultura na região dos municípios que entraram no projeto da marca própria teve início na década de 1980, com a criação do Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (Padap). Para sua implantação, foram desapropriados 500 quilômetros quadrados de terras contínuas. Atraídos para os municípios, os imigrantes – a maioria japoneses e descendentes – transformaram o cerrado semiárido numa das maiores regiões produtoras de hortifrutigranjeiros do estado e do Brasil. 

Fonte: Estado de Minas

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