quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Formar engenheiros, uma necessidade nacional - 11/12

Formar engenheiros, uma necessidade nacional
 
A formação do engenheiro moderno compreende a geração das culturas da educação continuada, da inovação e do empreendedorismo.

O mês de dezembro é marcado por alguns eventos de grande relevância para os engenheiros. No dia 11 celebraremos mais um dia do engenheiro, data em que, em 1933, foi regulamentada a profissão e instalado o sistema CONFEA-CREAS, que regula e fiscaliza o exercício da profissão.

Em 17 de dezembro de 1792 foi inaugurada pelo então Vice-Rei, o Conde de Resende, a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho. Durante o período de instalação da Corte Portuguesa, em 4 de dezembro de 1810, a Academia Real foi transformada em Academia Real Militar, com a finalidade de formar engenheiros de minas, portos, canais, pontes e calçadas.

Desta Academia surgiram duas importantes instituições de educação superior em nosso país: a antiga Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, onde me diplomei, e hoje escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considerada uma das melhores escolas de nosso continente, e a Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN.

Engenharia e arte militar andaram sempre juntas ao longo da história. Sua etimologia remonta ao século XIV, quando a palavra “engigneor” era usada para definir os construtores de armas e máquinas militares. Engenheiros foram aqueles que desenvolveram inovações como a roda, as polias, as alavancas ou, séculos mais tarde, construíram as pirâmides egípcias, os templos gregos, a muralha da China, e que introduziram as caravelas em Portugal e na Espanha, inovação decisiva para a chegada ao novo mundo..

Foram eles também que idealizaram a máquina a vapor, introduziram as maquinas elétricas, os automóveis, os equipamentos eletrônicos e, mais recentemente, os computadores, os satélites artificiais, construíram as pontes e as barragens, levaram água e saneamento às cidades e tudo aquilo que torna a nossa vida mais fácil e agradável.

Graças aos engenheiros, os avanços da nanotecnologia tem possibilitado salvar muitas vidas. Os avanços extraordinários da ciência e da técnica obrigaram os engenheiros a, cada vez mais buscar uma intima articulação com o setor produtivo, produzindo inovações que agreguem valor aos produtos desenvolvidos. e contribuam para o incremento da competitividade das empresas e, logicamente, do país.

Entretanto, ainda verificamos que, apesar dos mais de 200 anos de nossa primeira escola de engenharia, há muito a fazer. Temos hoje cerca de 600 mil estudantes matriculados em nossos quase 3000 cursos de graduação de engenharia, com baixíssimo percentual de conclusão, pois andamos por volta dos 50 mil diplomados anualmente.
As causas são muitas, mas destacam-se o fraco ensino médio, dificuldades econômicas e baixa motivação. O número de matriculados corresponde a menos de 10% do total de estudantes no ensino superior. O percentual de formados por milhão de habitantes é inferior a 30% da média dos países da OCDE. Apenas cerca de 50% dos ingressantes concluem a graduação.

Outro dado interessante é que apenas 42% trabalham em sua área de formação e desses, somente 50% estão na indústria. Isto é, existem dificuldades para a contratação de engenheiros, não habituados aos ambientes de inovação. Dados levantados pelo setor industrial mostram que mais de 70% das empresas apontam a falta de pessoal qualificado com uma barreira para o desenvolvimento da inovação na indústria.

Precisamos melhorar estes índices, baixíssimos para a nossa economia, uma das sete ou oito maiores do mundo, e assegurar que os nossos engenheiros adquiram, por meio de reformas curriculares e novas práticas pedagógicas, os conteúdos e a experiência essenciais, em constante mutação, sempre ao sabor do progresso científico.

A formação do engenheiro moderno compreende a geração das culturas da educação continuada, da inovação e do empreendedorismo. Estes são os fatores determinantes do sucesso na sociedade do conhecimento. Como a inovação depende do ambiente social, das tecnologias disponíveis num dado momento e do conhecimento cientifico disponível, esta formação necessita ser abrangente e multidisciplinar, garantindo uma sólida preparação nas disciplinas básicas, como matemática, física e química, habilitando os novos profissionais a novas ocupações nas suas áreas, ou mesmo em outras áreas, já que as profissões se transformam e em alguns casos, desaparecem.

Dessa forma, é importante também fazer com que a formação do engenheiro brasileiro se realize por meio de uma forte articulação da universidade com a empresa inovadora, seja pelo estímulo a criação de incubadoras e parque tecnológicos, seja pela realização de projetos conjuntos. Estágios supervisionados são parte indispensável do processo de formação. Além disso, em decorrência da globalização, surge a necessidade de atrair talentos de outros países reconhecidos pela sua capacidade inovadora.

Estas gigantescas tarefas dependem de políticas públicas que exigem a associação dos ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e da Infraestrutura. Na fase de composição de uma segunda equipe de governo e da definição de novas orientações políticas, industriais e econômicas, talvez surja uma boa oportunidade para eliminação dos gargalos que entravam nossa caminhada para o reconhecimento efetivo como grande nação.
 
Fonte: BLOG DO NOBLAT - Paulo Alcântara Gomes - 09/12/2014 02:14

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