quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sobrenomes bons de votos



Com as últimas eleições municipais, mais duas famílias mineiras entraram no rol daquelas que constroem uma dinastia política
Por Juliana Cipriani



Se a política está no sangue e Minas Gerais tem uma forte tradição das oligarquias no poder, as eleições de outubro não foram diferentes. As urnas avalizaram a história de pelo menos duas famílias que ampliaram suas influências elegendo novos nomes que darão continuidade à participação, agora renovada, dos clãs: os Prado, de Uberlândia, e os Pinheiro, de Ibirité. As novidades são Pinheirinho (Antônio Pinheiro Neto), eleito o mais jovem prefeito do Brasil, aos 21 anos, e Ismar Prado, de 44 anos, novo vereador de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

O sobrenome Prado virou sinônimo de vitória eleitoral. Pelo menos no caso dos cinco irmãos de Uberlândia. Há 12 anos eles podem se gabar de ocupar cadeiras nas três esferas do Poder Legislativo – e a façanha inédita de eleger simultaneamente dois integrantes da família para o mesmo cargo.  Atualmente eles ocupam uma cadeira na Câmara dos Deputados (Weliton Prado), duas na Assembleia Legislativa (Elismar Prado e Liza Prado) e uma na Câmara Municipal de Uberlândia (Gilmar Prado). Em 1º de janeiro, toma posse mais um membro do clã: Ismar Prado, o candidato a vereador mais votado do principal município do Triângulo, escolhido por 9.825 eleitores que foram às urnas em 7 de outubro. Ele ocupará o lugar de Gilmar, que optou por não disputar a reeleição.

A meta do futuro vereador é atuar na periferia da cidade. “Sempre ajudei o trabalho na comunidade, atuando nos movimentos sociais, sempre perto do povo. Sem dúvida, a eleição (dele e dos irmãos) é a força da nossa história de luta”, diz Ismar. A família, aliás, evita creditar ao sobrenome a vitória nas urnas. “Nosso trabalho é diferente. Os votos que recebemos são fruto de nosso trabalho nos movimentos estudantis e sociais. Não nascemos em uma família de políticos”, justifica Elismar, que já foi vereador por dois mandatos, deputado federal por quatro anos e está há dois na Assembleia Legislativa.

De fato, filhos de um marceneiro e uma costureira, a história política da família começou com Liza Prado, mais velha entre sete irmãos. Na adolescência, ela era vista nos movimentos estudantis, associações comunitárias e eventos da Igreja Católica. Foi um passo para a filiação ao PCdoB e a eleição, em 1992, para a Câmara Municipal de Uberlândia. De lá para cá, conquistou mais três mandatos – dos quais em duas eleições foi a candidata que obteve o maior número de votos. O último mandato ela deixou pela metade para tomar posse na Assembleia Legislativa, depois de ser eleita deputada estadual pelo PSB em 2010.

 

Mas a trajetória dos Prado na Assembleia Legislativa não começou em 2010. Oito anos antes, Weliton Prado conquistou uma das 77 cadeiras de deputado estadual pelo PT. Foi reeleito na disputa seguinte, quando Elismar Prado venceu a corrida por uma das 53 vagas mineiras na Câmara dos Deputados. Em 2010, eles resolveram “trocar de lugar”. E não é que deu certo? Elismar veio para Belo Horizonte e Weliton fez as malas para Brasília. E em alto estilo: foi o mais votado do PT e o terceiro na colocação geral dos deputados eleitos.

“Sempre falo que eleição é época de colher o que se planta ao longo da vida. Não tivemos intermediários e sempre defendemos os direitos das pessoas. Acho que isso credenciou a gente para ter votação expressiva”, acredita Weliton. Tanto que em duas ocasiões os irmãos disputaram o mesmo cargo e venceram: Liza e Elismar candidataram-se juntos em 2006 para vereador e, em 2010, para deputado estadual. “Não existe essa história de divisão de votos. Cada um faz a sua campanha, e o eleitor sabe do nosso trabalho”, justifica Elismar. A participação na política deve se limitar aos cinco irmãos: não faz parte dos planos da dona de casa Lucimar e da estudante Solimar seguir os passos dos Prado. Pelo menos por enquanto.

Para a cientista política Helcimara Telles, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apesar de o Brasil ser tradicionalmente oligárquico, a transferência de votos exclusivamente pelo nome familiar já não é tão forte no estado. “Provavelmente o sobrenome teve peso, e aí, ainda que as estruturas políticas se modernizem, alguns clãs ainda permanecem com algum efeito mesmo que por laços de identidade, afeto pela família. Afinal, quem tem um bom nome é honrado, tem crédito na praça e, consequentemente, crédito com o eleitor”, avalia.


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