A professora é Down
Débora Seabra venceu preconceitos, alfabetiza crianças e é um exemplo de como a inclusão de pessoas com deficiência é possível
Mariana BruggerVITÓRIA Débora Seabra e seus alunos: ela é a primeira professora Down do País |
Débora Seabra tem 31 anos e é professora de uma turma de alfabetização com 28 crianças de 6 e 7 anos na Escola Doméstica, instituição de ensino particular, em Natal (RN), onde nasceu. Ela é muito querida pelos alunos e pais. Seria uma situação comum se Débora não tivesse síndrome de Down. Na guerra pela inclusão travada diariamente por familiares e por portadores da síndrome, Débora é uma vitoriosa. Ela é a primeira professora, formada em nível médio, nesta condição no País.
A professora potiguar é o resultado de uma nova postura no trato de pessoas com Down: incluir e capacitar, em vez de esconder. Cerca de 25 jovens estão no mesmo caminho — entre os que estão na faculdade e os que já se formaram. Outros 50 ingressam em cursos profissionalizantes a cada ano. “No Brasil atual, a pessoa que tem Down encontra portas abertas na cultura, nos esportes e em diversos setores”, diz Débora Mascarenhas, psicóloga do Movimento Down. “É uma grande conquista para nós.” Mas nem tudo são flores.
Segundo a atual legislação, pessoas com deficiência podem participar dos sistemas de cotas, tanto para ingressar em universidades quanto para trabalhar. Empresas com mais de 100 empregados são obrigadas a destinar entre 2% e 5% das vagas a funcionários com esse perfil. Mas a mesma lei determina que quem tem deficiência intelectual e recebe pensão perca este direito ao começar a trabalhar. É uma situação de insegurança porque os portadores de síndrome de Down têm a saúde mais frágil – metade tem problemas cardíacos. O ex-jogador de futebol e atual deputado federal Romário (PSB-RJ), pai de uma criança com a síndrome, luta para ampliar os direitos de quem tem Down.
São atitudes como a da escola potiguar, porém, que dão uma colaboração gigantesca na luta contra o preconceito, pois desde cedo as crianças aprendem a conviver com a diversidade. Um aluno, por exemplo, perguntou a Débora por que ela falava “engraçado” e ela explicou que é um pouco diferente dos demais. “A gente conversa muito sobre inclusão nas aulas. A síndrome de Down é apenas uma característica minha, nada mais. Sei que minha história é um exemplo para eles”, afirma ela. Segundo a diretora Ângela Guerra Fonseca, um pai só descobriu que a professora é Down numa reunião ao conhecê-la. Mas não quis tirar o filho da escola porque, para o garoto, ela era apenas mais uma professora. “Débora já faz parte do nosso ambiente e aqui ninguém a vê como diferente, nem pais nem alunos”, afirma Ângela.
Fonte: Revista Época
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