quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Bairro Fundinho: a história viva pelo berço de Uberlândia

O bairro mais antigo de Uberlândia tem um lugar especial no coração de seus moradores e também daqueles que passam por ali seja para assistir a uma missa na Igreja do Rosário ou na Nossa Senhora das Dores, estudar na E. E. Américo Renê Giannetti, colégio Ressurreição Nossa Senhora, E. E. de Uberlândia ou E. E. Enéas de Oliveira Guimarães; visitar galerias de arte, o Museu Municipal, Museu Universitário de Arte, a Casa da Cultura ou a Oficina Cultural, ou fazer uma visita à Biblioteca Pública Municipal Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Ana Maria Franco Toledo em um dos seus lugares favoritos do Fundinho, a Biblioteca Municipal (Foto: Marcos Ribeiro)


Com uma ocupação espontânea e aprovação em 3 de maio de 1995 (mas surgido há mais de 100 anos), o Fundinho tem atualmente pouco mais de 2,7 mil habitantes e um charme e um poder de conquistar à primeira vista. Foi assim com Ana Maria Franco Toledo, 58 anos, moradora de um prédio na rua 15 de Novembro, próximo à Biblioteca Municipal.

O impacto do Fundinho é tão grande que até hoje a professora aposentada se lembra de sua primeira impressão. Natural de Ituiutaba, com parte da infância passada no município de Prata, ela se lembra de passar por Uberlândia e chegar pela estação rodoviária que funcionava perto de onde hoje ela reside. “O Fundinho era um reduto dos jovens ituiutabenses e pratenses naquela época. Às vezes descíamos aqui de passagem para Uberaba e mesmo naquele pouco tempo éramos atraídos pelo charme do lugar”, recordou.

Anos mais tarde, ela chegou a morar na rua Felisberto Carrejo. Passou um período na Cesário Alvim e retornou para o Fundinho, onde ainda pagava aluguel. Ana Maria lecionou na E. E. Américo Renê Giannetti entre 1987 e 2006 e o apreço pela região só aumentava. E quando teve a chance ela não pensou duas vezes. “Hoje tenho meu apartamento próprio aqui. Poderia estar morando em um lugar maior e melhor, mas esta região me faz feliz. É uma sensação de bem-estar que não sei nem explicar, uma energia boa que sinto toda vez que chegou aqui”, disse ela, que atualmente divide o apartamento com a mãe e dois sobrinhos que vieram do interior de Goiás para estudar. Um está na UFU e o outro no Colégio Ressurreição Nossa Senhora, praticamente do lado de casa.

Porém, atualmente, duas coisas a preocupam no bairro. “O descaso com as calçadas. Muitas são irregulares e causam quedas, principalmente de idosos, que se machucam ao caminharem por elas. Outra coisa é esse fluxo pesado de veículos na 15 de Novembro, é algo que, creio eu, ainda pode ser amenizado.”

Praça vira ponto de encontro, relaxamento e diversão

No início de uma noite branda de inverno em uma terça-feira na praça Coronel Carneiro se encontram perfis diferentes de pessoas. Uma senhora faz crochê calmamente sob a luz de um dos postes; crianças correm sob os olhares cuidadosos dos pais ou avós ainda no uniforme escolar; Pedro Augusto Silva joga uma bola de tênis perseguida pela sorrateira Brahma, uma linda border collie.

O estudante de Fisioterapia de 25 anos vive desde os 3 no bairro. Compartilha com os moradores mais antigos as lembranças deles. “Gosto de ouvir as histórias deles. Tem alguns na faixa dos 90 anos que me contam histórias sobre a fundação do bairro, as casas mais antigas. Me entristece o fato de que algumas delas, como a casa que pertenceu a Geraldo Migliorini, não estar mais aqui”, disse, referindo-se ao imóvel demolido em 2008. “Me lembro de estar exatamente nesta praça, ainda moleque, andando de skate e contemplando a imponência do casarão.”
A revitalização do Fundinho, que ganhou nos últimos anos uma grande quantidade de lojas de grife, restaurantes e galerias, é vista de forma positiva pelo jovem. “O comércio trouxe mais movimentação para a região, que era menos movimentada e hoje se você sai no horário de pico vê isso aí, muita gente diferente compartilhando esse espaço”, disse. Para Pedro Augusto, nada está tão bom que não possa melhorar. Progresso sim, mas respeitando a identidade do lugar, e segurança sempre.

Morador quer arquitetura preservada

Ana Maria Franco Teodoro está satisfeita com o que o bairro Fundinho oferece. “Desço do elevador e tenho farmácia do lado, uma boa variedade de opções gastronômicas, boas lojas de roupas e sapatos, galerias de arte, o Museu e ainda a Biblioteca Municipal do lado de casa”, disse. Para ela, a arquitetura do Fundinho é um dos seus grandes atrativos.

Apesar dessa riqueza da região, somente nove locais são tombados ou pertencem ao patrimônio histórico do município: a Biblioteca Pública, Casa da Cultura, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Igreja Nossa Senhora das Dores, conjunto praça Clarimundo Carneiro (Praça, Museu e Coreto), Oficina Cultural, Palácio dos Leões, Escola Estadual de Uberlândia e o imóvel na Rua Marechal Deodoro da Fonseca, 52, na esquina com a Vigário Dantas.

Ana Maria acredita que outras casas mais antigas da região deveriam ser protegidas. “É preciso preservar parte desta história na arquitetura. Nada contra a modernização, ela é benéfica, mas tem como fazer isso preservando a arquitetura original dos prédios, é parte da história da cidade. É possível manter a veia progressista e preservar o ornamento mais antigo, a identidade original”, disse a moradora, que tem um carinho especial pela Biblioteca Municipal. “Eu não poderia estar em um lugar melhor, sou muito feliz aqui neste bairro. Aqui a gente conhece os vizinhos e se eu passar mal ali na esquina terá alguém para me ajudar, que sabe meu nome e onde moro, isso não se tem em qualquer lugar”, finalizou.

Há 27 anos, Fernando de Oliveira Lima abriu uma farmácia onde, por 60 anos, funcionou o mesmo tipo de comércio no bairro Fundinho (Foto: Adreana Oliveira)


A primeira farmácia

Há 27 anos o empresário Fernando de Oliveira Lima mantém uma farmácia próxima ao prédio onde Ana Maria reside e, quando ali chegou, fez questão de preservar a arquitetura original do imóvel. Na parede, ele exibe uma foto antiga do local com a inscrição “Primeira farmácia de Uberlândia”. Isso porque, durante 60 anos, no mesmo ponto, outra pessoa mantinha o mesmo negócio. “Não mudei a fachada. A gente moderniza para dar mais comodidade aos clientes e cumprir as leis, mas a estrutura é a mesma”, afirmou.

Oliveira tem casa no bairro Tibery, mas vive mais tempo no Fundinho. “Chego aqui às 7 da manhã e saio às 8 da noite, a maior parte da minha vida passo aqui. É um lugar acolhedor, onde as pessoas se preocupam umas com as outras. Quando tem gente diferente no bairro todo mundo reconhece. É como se fosse uma pequena cidade dentro da grande cidade”, disse o empresário.

Fundinho é um bairro nobre da Região Central de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. O mesmo é o nome do bairro mais antigo, local em que Uberlândia foi fundada há cerca de 150 anos. Nele se encontram os prédios históricos, as mais antigas ruas e praças, dois museus, antiquários, galerias de arte, ateliês, brechós, enfim, há um núcleo de maior importância para a cidade.

Fonte: Correio de Uberlândia

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