Guia sempre à mão
Ferramenta apresenta na tela do
smartphone um mapa indicando que lojas estão nos arredores e verbaliza
informações como o que está na vitrina e quais são as promoções do dia
Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS
Enquanto caminha sozinho pelo
shopping, de óculos escuros sobre os olhos agitados e bengala em uma das mãos,
Guilherme Lubian segue confiante, mas não tem como saber o que o cerca.
Encontrar um restaurante, uma loja de roupas, um supermercado é tarefa difícil
para quem não pode contar com a visão e, desacompanhado, precisa descobrir o
caminho a seguir em locais fechados. A cada passo, é preciso contar com a
própria memória ou a boa vontade de quem transita por ali.
Durante um curso voltado ao
desenvolvimento de aplicativos, Guilherme, que é formado em análise de
sistemas, comentou essa dificuldade com os colegas. Foi a deixa para o início
de um projeto que serviria como guia para pessoas com deficiência visual, um
acompanhante sempre à mão para contar o que há por perto – e como chegar ao
local desejado. Ainda falta investimento para que o protótipo esteja ao alcance
de todos, mas há motivação de sobra para disponibilizá-lo logo.
– A gente não consegue imaginar o
constrangimento de precisar sempre perguntar para alguém onde você está e como
chegar aonde quer ir. Tentamos ajudar quem é cego a superar – relata o
desenvolvedor mobile Douglas Ritter, 27 anos.
O LocateMe, criado no ano
passado por cinco colegas – Douglas e Guilherme entre eles – na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), apresenta na tela do
smartphone um mapa indicando que lojas estão nos arredores e verbaliza
informações como o que está na vitrina e quais são as promoções do dia. É um
sopro de autonomia para quem, apesar das necessidades especiais, também quer
passear sozinho e raramente encontra nos shopping, por exemplo, um ambiente
amigável.
– Se tiver que me localizar sozinho,
não vou conseguir. Essa plataforma me permite ter um nível de interação
parecido com o de qualquer outra pessoa. A ideia é que eu tenha, na ponta dos
dedos, os meus olhos – declara Guilherme, que também presta consultoria em
soluções para pessoas com deficiência visual.
Para Douglas, uma proposta – que
exigiria de cada loja a manutenção de um dispositivo que tornasse o aplicativo
atualizado – é mais prática e barata do que outras, como o piso tátil, e
envolve menos trabalho logístico. Enquanto se foca em encontrar novos rumos e
provar os benefícios da plataforma, o desafio é se colocar no lugar dos futuros
usuários.
– Não sei vocês, mas eu sempre imagino como seria
caminhar aqui (no shopping) se eu não tivesse visão. É desesperador.
*Liza Prado foi presidente da Comissão de Defesa de Direito das Pessoas com Deficiência na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
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